segunda-feira, 19 de abril de 2010

(Lição 06) Tatuagens: apagando o passado

Uma legião de trintões chega a pagar o equivalente a um carro popular para arrancar da pele as tatuagens feitas na adolescência.


Por ROSÂNGELA BAíA e ALEXANDRE MANSUR

Os colegas de trabalho de Erica Moro, consultora de marketing, foram os primeiros a notar a mudança de estilo. Aos 30 anos, ela trocou as calças por saias e vestidos. 'Perdi a vergonha de mostrar as pernas', conta. A vitória não foi fruto de nenhuma passagem pelo divã de um analista, mas resultado de cinco sessões de laser. Erica apagou a flor vermelha que tinha desde os 17 anos na batata da perna direita. 'Na hora da tatuagem, foi uma curtição. Depois, virou um problema', diz. Erica fez o desenho de graça, mas desembolsou R$ 2.500 para removê-lo.

Como Erica, centenas de homens e mulheres têm buscado clínicas e consultórios para eliminar psicodélicos vestígios da adolescência. A rede de estética Dicorp, com sete unidades no país, lançou o serviço no ano passado. Em 2003, a procura dobrou. O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, desde 2000 vem duplicando ano a ano o número de pacientes. No Leblon Laser Center, no Rio de Janeiro, uma das principais clínicas do país, há fila de espera para iniciar o tratamento.

Apagar uma marca feita para ser eterna custa caro, dá trabalho e dói um bocado. Para fazer uma tatuagem, gastam-se no máximo R$ 200. Para arrancá-la do corpo, são necessárias de seis a 12 sessões, a R$ 500 cada uma. A vendedora Lizandra Alves, de 29 anos, já pagou R$ 3 mil - 20 vezes o valor da tatuagem - e ainda está na metade do processo de remoção. Ela sonhava desde menina com um desenho no corpo. O pai nunca deixou. No ano passado, tomou coragem e mandou estampar uma flor em verde-escuro na lombar, por R$ 150. Dessa vez, foi o marido que reprovou. Casada há menos de dois anos, Lizandra capitulou. Dois meses depois de fazer o desenho, procurou uma clínica para apagá-lo. 'Recebemos cada vez mais gente com tatuagens recentes', conta Alexandre Filippo, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 'Como virou modismo, as pessoas procuram o tatuador sem pensar que podem se arrepender mais tarde.' São justamente as marcas mais recentes, segundo um estudo do Centro de Laser e Cirurgia de Pele de Nova York, as mais difíceis de eliminar.

A maioria dos arrependidos está na faixa dos 30 anos. É o efeito retardado da popularização dos símbolos de irreverência nas décadas de 80 e 90. Passada a adolescência, os tatuados entram no mercado de trabalho e o desenho na pele vira um estorvo. Especialistas em recursos humanos não recomendam. 'Quem quer construir uma carreira corporativa deve analisar o perfil da empresa antes de fazer uma tatuagem. Os bancos, por exemplo, são muito conservadores', alerta Eline Kullock, do Grupo Foco, que seleciona profissionais para multinacionais.

Quando tinha 16 anos, o paulistano Antônio Ramalho se empolgou com a tatuagem de uma paisagem colorida no ombro esquerdo. Depois, enjoou do visual. Mais ainda quando se formou em Direito. Aos 33 anos, advogado, quer prestar concurso para magistratura e submete-se a sessões de laser para apagar a marca. 'Apesar de não haver nenhuma lei regulamentando isso, acho que não fica bem exercer a função de juiz com a tatuagem exposta. Principalmente em uma comunidade menor', diz.

A técnica mais eficaz de remoção usa um aparelho de raio laser. A luz é aplicada sobre o desenho para alcançar os glóbulos de tinta, situados a 0,3 milímetro de profundidade na pele. Provoca uma reação química que desestabiliza o corante e facilita sua absorção pelo organismo. O raio destrói com mais facilidade os traços de tinta escura. 'Tatuagens com tons de vermelho, verde ou amarelo levam mais tempo para sair', explica o dermatologista Mário Grinblat, do Hospital Albert Einstein. De lembrança, o paciente herda apenas uma mancha com pigmentação mais clara ou mais escura que o tom normal da pele. A opção mais barata de tratamento é a combinação de ácido com raspagem da pele. Custa 30% menos que o laser e funciona para tatuagens pequenas. O futuro deverá trazer métodos mais simples para exterminar o passado. Um creme chamado imiquimod, pesquisado pela Schering, já conseguiu retirar tatuagens feitas em animais. A eficácia em humanos ainda está sendo testada. Até lá, é melhor pensar dez vezes antes de tatuar o corpo.


Um comentário:

  1. hum..é osso teer tatuagem queem é cristão...eu não goastoo e tbm não descriminoo ninguém..

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