segunda-feira, 19 de abril de 2010

(Lição 02) Crescimento e desenvolvimento na adolescência


A adolescência é definida como a fase de transição entre a infância e a idade adulta, uma passagem que pode durar até dez anos (dez aos vinte anos), dependendo do indivíduo, de seu ambiente social, escolar e familiar. A puberdade refere-se a um conjunto de modificações biológicas que vão resultar em capacidade reprodutora.

A puberdade pode variar de indivíduo para indivíduo, quanto a idade de seu início e velocidade das mudanças, segundo influência de fatores hereditários, nutricionais, e pré-existência de doenças crônicas tais como asma, diabetes, doenças gastrointestinais, renais, cardíacas etc.

Seqüência de mudanças físicas nas meninas
A puberdade feminina ocorre um pouco mais cedo do que a dos meninos, embora dure um pouco mais. Primeiramente há uma progressiva deposição de tecido adiposo (gordura) ao redor dos quadris, seguida rapidamente pelo surgimento do broto mamário, que pode ser uni ou bilateral, e dos primeiros pêlos pubianos. Geralmente isto se dá por volta dos onze anos (podendo variar entre 8 e 13 anos). Ao redor de um ano após o início do desenvolvimento das mamas acontece um intenso aumento em estatura, conhecido com estirão puberal.

Aproximadamente seis meses após este aumento da velocidade de crescimento costuma ocorrer a primeira menstruação, a menarca. Percebemos, assim, que a primeira menstruação é um fato relativamente tardio na seqüência de eventos da puberdade. Em termos práticos, como referência, o intervalo de tempo entre o surgimento dos brotos mamários e a menarca costuma ser de cerca de dois anos, dois anos e meio.

Seqüência de mudanças físicas nos meninos

Os meninos, diferentemente das meninas, não têm em seu processo de maturação sexual nenhum fato tão expressivo quanto o aparecimento do broto mamário ou a menarca. As emissões noturnas de esperma, durante o sono, poderiam ser consideradas como algo da mesma importância que a menstruação para as meninas, mas não têm a mesma regularidade.

Em torno dos onze anos, podendo variar entre 9 e 13 anos, os testículos começam a aumentar de volume, ainda sem modificação do tamanho do pênis, o que só vai ocorrer após mais ou menos um ano a partir disto. Um pouco antes do começo do crescimento do pênis surgem os primeiros sinais de pêlos pubianos e de pêlos axilares. O crescimento testicular e peniano pode estar completo entre os doze anos e meio e os dezessete anos, dependendo de quando as modificações começaram a acontecer naquele indivíduo.

O aumento da velocidade de crescimento - estirão puberal - acontece um pouco mais tarde nos meninos do que nas meninas, depois do início do aumento dos testículos.

Problemas freqüentes na puberdade

Mamas de tamanhos diferentes - No início da puberdade uma mama pode começar seu desenvolvimento um pouco antes que a outra, mas ao longo do tempo a tendência é que as duas fiquem mais parecidas em tamanho. Entretanto, é relativamente comum que mulheres adultas tenham seios ligeiramente desiguais, o que nem sempre é facilmente observável. Massas palpáveis nos seios são geralmente cistos ou tumores benignos, dentre outras causas, sendo necessário procurar um médico nestes casos e realizar alguns exames. Câncer de mama é bastante raro nesta faixa etária.

Corrimento ou secreção vaginal - É bastante freqüente que as adolescentes sejam levadas ao médico para averiguação de secreção vaginal. Nesta fase da vida é comum a presença de secreção fina, clara ou leitosa, sem coceira ou mau odor, provocada pela ação dos hormônios estrogênios na mucosa uterina, um pouco antes da menstruação. Maus hábitos de higiene após urinar ou evacuar, ou o uso de roupas muito apertadas, podem levar à mudança das características desta secreção, com contaminação por bactérias presentes nas fezes. É bom lembrar que algumas doenças sexualmente transmissíveis também se manifestam através de secreção vaginal anormal, de aspecto amarelado, em maior volume, com mau cheiro ou com coceira.

Irregularidade menstrual - Durante cerca de um ano após a menarca os ciclos menstruais são geralmente irregulares, tanto no que se refere ao intervalo entre um e outro quanto na duração do fluxo menstrual. Eventualmente este período de irregularidade pode se prolongar além de um ano, mas o tratamento hormonal deve ser evitado sempre que possível, embora a situação seja um pouco inquietante tanto para a adolescente quanto para a família. Devemos ressaltar que estes ciclos irregulares são geralmente anovulatórios, ou seja, ocorrem em geral sem ovulação. Algumas meninas, porém, podem ovular desde o seu primeiro ciclo menstrual.

Ausência de menstruação - Consideramos um problema médico quando a menstruação ainda não aconteceu numa menina de dezesseis anos que já tem seios ou numa menina de quatorze anos que não apresenta sinais de desenvolvimento das mamas. Um outro problema é quando a menstruação desaparece por mais de três meses consecutivos, exceto no primeiro ano após a primeira menstruação, pois neste período ela tem características irregulares. Várias podem ser as causas desta situação, sendo muitas vezes necessária a ajuda tanto do ginecologista quanto do endocrinologista. Fatores ligados à prática de atividade física em excesso, obesidade, deficiências nutricionais, stress (questões familiares, problemas na escola ou com o grupo social), uso de alguns tipos de medicamentos, inclusive anticoncepcionais orais, presença de hímen malformado, sem o orifício normal que permite a passagem do fluxo menstrual, algumas doenças e, finalmente, gravidez, podem ser causas da ausência de menstruação.

Disfunção do sangramento uterino - Os ciclos menstruais normais variam entre 21 e 35 dias, contados desde o primeiro dia de menstruação até o primeiro do próximo ciclo. O fluxo geralmente é de no máximo sete dias. Para efeito de cálculo da intensidade do fluxo menstrual podemos utilizar o número de trocas de absorventes feitas ao longo do dia. O gasto de mais de seis absorventes ou de dez tampões por dia durante mais de oito dias seguidos, geralmente indica fluxo excessivo, embora a freqüência de troca varie bastante entre as mulheres, o que pode dificultar a análise da situação. Geralmente o sangramento excessivo é acompanhado por ciclos sem ovulação, e causado por distúrbios hormonais. Uma minoria dos casos é provocada por distúrbios da coagulação sanguínea ou outras doenças. A principal conseqüência para a saúde da adolescente é a possibilidade de acontecer anemia causada pela perda prolongada de sangue.

Cólicas menstruais - Cerca de 65% das adolescentes se queixam de cólicas nos primeiros três dias da menstruação. Geralmente não há uma doença associada a esta condição, embora isto seja possível, como nos casos de anormalidades anatômicas, tumores benignos e a endometriose, que é a presença anormal de tecido uterino fora do útero. Sabemos também que, embora já se conheçam os mecanismos bioquímicos que causam a cólica menstrual, os fatores psicológicos ou emocionais podem estar relacionados a este problema.

Ginecomastia - Este nome complicado é sinônimo do aumento do tamanho das mamas em meninos. Embora seja muitas vezes motivo de piada e de comportamentos anti-sociais, é bastante comum (é encontrada em 50-60% dos meninos no início da adolescência), benigna e costuma desaparecer sozinha ao longo do período de crescimento. Este aumento das mamas pode ser acompanhado e complicado pelo excesso de peso, uma vez que a gordura pode se depositar nesta região do corpo. Não se conhece muito bem a causa da ginecomastia, embora se saiba que uma minoria de casos está relacionada a algumas doenças renais, hepáticas, glandulares (problemas da tireóide, por exemplo), e ao uso de alguns medicamentos ou drogas. A prática regular de natação ou de musculação com prévio aconselhamento médico pode beneficiar os portadores desta condição pois ajuda a desenvolver a musculatura peitoral e a "disfarçar" o problema. Numa minoria de casos pode ser necessária a administração de um medicamento para controlar a ginecomastia, bem como também a cirurgia plástica.

Anormalidades do crescimento

O crescimento é influenciado por diversos fatores, dentre eles a hereditariedade, fatores nutricionais, ambientais (questões afetivas, familiares, psicológicas, socioeconômicas e glandulares). O crescimento do adolescente deve ser medido em intervalos nunca menores do que seis meses, uma vez que o crescimento não é linear e constante durante os doze meses do ano, acontecendo em "surtos", durante alguns meses e depois dando pausas.

A suspeita de "baixa estatura" costuma ocorrer quando os pais ou familiares comparam o adolescente a outros da mesma idade, embora esta comparação deva ser feita considerando-se também a questão racial, o sexo, e também outros adolescentes da mesma família. Entretanto o diagnóstico de baixa estatura ou de crescimento insuficiente deve ser feito por um médico, pois depende de correlações entre estatura materna e paterna, e avaliação do crescimento num determinado intervalo de tempo, idealmente pelo menos um ano, além de medidas de outros segmentos corporais. Numa análise global entra também o aspecto da maturação sexual, pois muitas vezes os pais podem interpretar como problema de crescimento, por exemplo, um adolescente de treze anos que ainda não tenha passado pela fase do já citado estirão da puberdade, quando acontece um rápido aumento de estatura. Compará-lo com outro menino da mesma idade que esteja em plena fase de crescimento rápido, ou que já tenha passado por ela, pode levar a uma falsa impressão. Outras avaliações, incluindo-se dosagens hormonais, radiografias ósseas e outros exames podem ser necessários.


Dentre as principais causas de baixa estatura na adolescência podemos citar a baixa estatura familiar, a baixa estatura constitucional (indivíduos que crescem devagar mas que atingem uma estatura normal ao final do período de crescimento), a deficiência do hormônio do crescimento, problemas relacionados à glândula tireóide, diabetes sem controle, doenças ósseas, asma, desnutrição, AIDS, doenças genéticas etc.

Em contrapartida ao problema da baixa estatura, que freqüentemente leva o adolescente ao consultório médico, temos o oposto, que é a "alta estatura", o que é mais raro ser motivo de consulta mas que pode ser um distúrbio. A alta estatura pode ser hereditária ou constitucional, ou pode ser resultado de distúrbios glandulares, síndromes genéticas e outras doenças.

Desordens da puberdade

Atraso da puberdade - A puberdade está atrasada quando ainda não deu sinais (broto mamário ou início do aumento dos testículos) até os treze anos nas meninas e até os quatorze anos nos meninos.

Puberdade precoce - Consideramos puberdade precoce casos em que os primeiros sinais de maturação sexual ocorrem antes dos nove anos em meninos e antes dos oito anos em meninas. Existem numerosas causas para tais alterações, que devem ser cuidadosamente investigadas pelos médicos especialistas (endocrinologistas, geneticistas etc). É importante destacar que tem grande valor o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento do adolescente com regularidade e uma periodicidade de duas consultas ao ano, para que eventuais problemas possam ser identificados e tratados no momento certo.

Maria Elisabete Rodrigues Barbosa é médica de crianças e adolescentes.

Fonte: http://www.iupe.org.br/ass/educacao/edu-puberdade_crescimento_e_desenvolvimento.htm

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